quarta-feira, 7 de outubro de 2009

LEGISLATIVAS 2009




Foto(s): Agência Lusa / Sol



No passado dia 27 de Setembro, estivemos perante mais um dia de eleições legislativas.
Um dia importante, assaz decisivo, para o Portugal dos próximos anos.
Num tempo de crise incontornável, levando em atenção todos os indicadores sociais e económicos, os portugueses foram convocados para uma eleição onde estava em causa o futuro governo do país.
Muitos comentadores equacionavam a possibilidade de o actual governo conseguir obter uma (re)nova(da) maioria absoluta, embora (há que reconhecê-lo) nos últimos tempos essa possibilidade tenha praticamente caído por terra.
Mas a política, tal como o coração, parece ter razões que a própria razão desconhece, glosando Pascal.
Pessoalmente, e posso facilmente comprová-lo, há já bastante tempo que havia vaticinado uma eventual vitória do Partido Socialista, embora por maioria relativa. E passo a explicar: nenhum governo pós - 25 de Abril, democraticamente eleito, não havia sido reconduzido (exceptuando o de Santana Lopes que contudo não foi sufragado), para além do facto iniludível dos portugueses apreciarem sobremaneira líderes austeros.
Todavia, o conjunto de trapalhadas em catadupa, a aposta inteligente do Partido Social Democrata no eixo: «política de verdade», a sucessão de episódicas passagens do caso Freeport, proporcionaram uma hipótese - mesmo que teórica - desta tese ser contrariada. Pese embora estes factores, relevantes é certo, as voltas e contra-voltas que esta campanha conheceu veio confundir a lógica política, baralhando as estratégias, as pessoas e, consequentemente, os votos.
Senão vejamos: o Partido Socialista confrontou-se com manifestações públicas de enorme dimensão. Foram os professores, as polícias, os magistrados, os agricultores, os jornalistas. Foi o caso da suposta licenciatura de Sócrates. Foi o caso Freeport. Foi a instrumentalização da comunicação social, a arrogância e prepotência. Foi o autismo. Por seu lado, o Partido Social Democrata teve três líderes, a saber: Luís Marques Mendes, Luís Filipe Menezes e Manuela Ferreira Leite. Quando as agulhas pareciam afinadas e o slogan de campanha assertivamente definido, surgem as inabilidades/incongruências - a lista de deputados (exclusão de Pedro Passos Coelho e Miguel Relvas e consequente escolha de António Preto e Helena Lopes da Costa com contas por saldar com a justiça); a ida à Madeira; o caso das escutas a Belém.
Convém relembrar que na semana anterior às eleições, as sondagens apontavam para um empate técnico entre PS e PSD (sendo que estas valem o que valem). Obviamente que num cenário de empate técnico e com um índice percentual de indecisos anormalmente elevado, o caso das escutas (mal gerido por todas as partes numa espécie de «Belém-Gate») foi claramente o «fiel da balança».
~
Com estes resultados:

PS - 36,6% (97 deputados)
PPD/PSD - 29,1% (81 deputados)
CDS-PP - 10,5% (21 deputados)
BE - 9,9% (16 deputados)
CDU - 7,9% (15 deputados)
Outros - 3,1%
Brancos/Nulos - 3,1%

Concluimos, deste modo que:

O Partido Socialista teve uma vitória ligeira com sabor agridoce. Teve mais votos, oficialmente venceu, mas perdeu mais de 500.000 votos (meio milhão!). Dá que pensar...
O Partido Social Democrata teve uma derrota clara e inequívoca. A falta de carisma, de propostas bem definidas e, acima de tudo, de uma mensagem positiva eivada de esperança no futuro, cerceou qualquer hipótese de reconquistar S. Bento. E a oportunidade esteve tão perto... Há que reflectir seriamente e assumir responsabilidades!
O CDS-PP foi, sem apelo nem agravo, o grande vencedor da noite. Tornou-se na terceira força política, chegou aos dois dígitos, ultrapassou as duas dezenas de deputados e ganhou um novo élan , agora que se redesenha o mapa político no hemiciclo. Paulo Portas no seu melhor, com uma campanha a todos os níveis exemplar: programa político, contenção de custos, vitória nos debates e personalização comunicacional nas ruas.
O Bloco de Esquerda começou bem, com força, mas foi paulatinamente «esvaziando o balão» (recorrendo às palavras de Louçã, ironia das ironias). Mal no debate com Sócrates, deu azo a interpretações múltiplas... Atingiu os objectivos de duplicar o número de deputados, ultrapassar a CDU, retirar a maioria absoluta ao PS. Mas foi ultrapassado pelos populares na recta final. E as autárquicas estão aí bem perto...
A CDU cresceu cerca de 14.000 votos (0,4%), aumentou o número de deputados (mais um)mas foi ultrapassada pelo CDS-PP e, particularmente, pelo BE, o que teve seguramente um sabor bem amargo... Será, porventura, o princípio do fim desta(s) força(s) política(s) que ou se renova urgentemente ou se confinará a mais um partido residual. Talvez as autárquicas ajudem a amenizar o efeito...
Quanto aos pequenos partidos e aos votos brancos e nulos perfazem 6,2%. Significativo o descontentamento popular...
Acredito que José Sócrates pretenderá levar avante o seu governo minoritário, fazendo acordos pontuais. Acredito ainda na possibilidade de conseguir cumprir os quatro anos de legislatura, embora em circunstâncias naturalmente adversas.
Quanto à oposição, designadamente no que concerne ao PPD/PSD, terá de se reorganizar e encontrar um líder afirmativo, proactivo e carismático que se imponha primeiro ao partido e depois ao país. Enquanto isso não acontecer, tudo como antes no quartelo de Abrantes. Talvez lá para Maio tenhamos novidades (antes não acredito, mas em política nada é definitivo )...
Vem aí as autárquicas: mais um capítulo político neste frenético 2009. Mas, convenhamos, as contingências são bem particulares...


F.P.