sábado, 19 de dezembro de 2009

SÓS








Para quê ocultar

O que em nós existe...

Quando sabes estar

O desejo subsiste.


O tempo tem raça

A memória perpassa,

Tu existes em mim

Simplesmente...assim!


Talvez sim, talvez não

Até podes abrir mão

Quem sabe um dia

Vivamos uma orgia.


Deseja-lo tanto...

Que não o ensejas

Sei que não sou um santo

E por isso me desejas.


Sei que para ti sou

Um mito a desvendar

Sabes que p'ra onde vou

Por ti estou a passar...


Podemos calar a voz

Que contudo sabemos

Que ambos nos temos

Quando estamos a sós...




F.P. ©

Porto, Dezembro de 1995

Foto: www.olhares.com

sábado, 14 de novembro de 2009

EBULIÇÃO






A mim

Tudo me chamam...

Cavalheiro, escritor

Poeta, galanteador

Entre outros demais.

Cantor de palavras

Actor de intervenção,

Liberto minha emoção

Esvaio-me de mão p'ra mão.

Sei que sou complexo

Que tenho um jeito sedutor

Mas que por detrás do amor

Existirá sempre o sexo.

Por vezes, não raras

Sem razões, sem nexo

Freudianas impulsões,

Torno-me pouco sensível

Talvez até imperceptível

Quiçá um reles compulsivo...

Talvez deliberadamente

Seja até um pouco louco,

Não o deixarei de ser

E de m'intrometer

Na ebulição difusa

De uma alma confusa.

O vento reclama

A brisa espairece

Quando ela me chama

Tudo o resto acontece...



Fernando Peixoto ©


(Novembro 1999)

(Imagem: www.olhares.com)

domingo, 8 de novembro de 2009

AMAR








Ir e voltar

Emergir

Saber estar

Imergir

Escapar e sorrir.

Saltar, beber

Falar

Escrever

Perorar... e ter.

Saber...ver

Analisar, prever

Pensar

Escutar, calar

Mas conter.

Dormir, acordar

Despertar

Sentir

Vir e aguardar

E fruir.

Desejar...atingir

Rir e chorar

Influir e ansiar

Sentir

Regressar e sumir

Enfim... amar.




Fernando Peixoto ©


(Fevereiro de 1995)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

LEGISLATIVAS 2009




Foto(s): Agência Lusa / Sol



No passado dia 27 de Setembro, estivemos perante mais um dia de eleições legislativas.
Um dia importante, assaz decisivo, para o Portugal dos próximos anos.
Num tempo de crise incontornável, levando em atenção todos os indicadores sociais e económicos, os portugueses foram convocados para uma eleição onde estava em causa o futuro governo do país.
Muitos comentadores equacionavam a possibilidade de o actual governo conseguir obter uma (re)nova(da) maioria absoluta, embora (há que reconhecê-lo) nos últimos tempos essa possibilidade tenha praticamente caído por terra.
Mas a política, tal como o coração, parece ter razões que a própria razão desconhece, glosando Pascal.
Pessoalmente, e posso facilmente comprová-lo, há já bastante tempo que havia vaticinado uma eventual vitória do Partido Socialista, embora por maioria relativa. E passo a explicar: nenhum governo pós - 25 de Abril, democraticamente eleito, não havia sido reconduzido (exceptuando o de Santana Lopes que contudo não foi sufragado), para além do facto iniludível dos portugueses apreciarem sobremaneira líderes austeros.
Todavia, o conjunto de trapalhadas em catadupa, a aposta inteligente do Partido Social Democrata no eixo: «política de verdade», a sucessão de episódicas passagens do caso Freeport, proporcionaram uma hipótese - mesmo que teórica - desta tese ser contrariada. Pese embora estes factores, relevantes é certo, as voltas e contra-voltas que esta campanha conheceu veio confundir a lógica política, baralhando as estratégias, as pessoas e, consequentemente, os votos.
Senão vejamos: o Partido Socialista confrontou-se com manifestações públicas de enorme dimensão. Foram os professores, as polícias, os magistrados, os agricultores, os jornalistas. Foi o caso da suposta licenciatura de Sócrates. Foi o caso Freeport. Foi a instrumentalização da comunicação social, a arrogância e prepotência. Foi o autismo. Por seu lado, o Partido Social Democrata teve três líderes, a saber: Luís Marques Mendes, Luís Filipe Menezes e Manuela Ferreira Leite. Quando as agulhas pareciam afinadas e o slogan de campanha assertivamente definido, surgem as inabilidades/incongruências - a lista de deputados (exclusão de Pedro Passos Coelho e Miguel Relvas e consequente escolha de António Preto e Helena Lopes da Costa com contas por saldar com a justiça); a ida à Madeira; o caso das escutas a Belém.
Convém relembrar que na semana anterior às eleições, as sondagens apontavam para um empate técnico entre PS e PSD (sendo que estas valem o que valem). Obviamente que num cenário de empate técnico e com um índice percentual de indecisos anormalmente elevado, o caso das escutas (mal gerido por todas as partes numa espécie de «Belém-Gate») foi claramente o «fiel da balança».
~
Com estes resultados:

PS - 36,6% (97 deputados)
PPD/PSD - 29,1% (81 deputados)
CDS-PP - 10,5% (21 deputados)
BE - 9,9% (16 deputados)
CDU - 7,9% (15 deputados)
Outros - 3,1%
Brancos/Nulos - 3,1%

Concluimos, deste modo que:

O Partido Socialista teve uma vitória ligeira com sabor agridoce. Teve mais votos, oficialmente venceu, mas perdeu mais de 500.000 votos (meio milhão!). Dá que pensar...
O Partido Social Democrata teve uma derrota clara e inequívoca. A falta de carisma, de propostas bem definidas e, acima de tudo, de uma mensagem positiva eivada de esperança no futuro, cerceou qualquer hipótese de reconquistar S. Bento. E a oportunidade esteve tão perto... Há que reflectir seriamente e assumir responsabilidades!
O CDS-PP foi, sem apelo nem agravo, o grande vencedor da noite. Tornou-se na terceira força política, chegou aos dois dígitos, ultrapassou as duas dezenas de deputados e ganhou um novo élan , agora que se redesenha o mapa político no hemiciclo. Paulo Portas no seu melhor, com uma campanha a todos os níveis exemplar: programa político, contenção de custos, vitória nos debates e personalização comunicacional nas ruas.
O Bloco de Esquerda começou bem, com força, mas foi paulatinamente «esvaziando o balão» (recorrendo às palavras de Louçã, ironia das ironias). Mal no debate com Sócrates, deu azo a interpretações múltiplas... Atingiu os objectivos de duplicar o número de deputados, ultrapassar a CDU, retirar a maioria absoluta ao PS. Mas foi ultrapassado pelos populares na recta final. E as autárquicas estão aí bem perto...
A CDU cresceu cerca de 14.000 votos (0,4%), aumentou o número de deputados (mais um)mas foi ultrapassada pelo CDS-PP e, particularmente, pelo BE, o que teve seguramente um sabor bem amargo... Será, porventura, o princípio do fim desta(s) força(s) política(s) que ou se renova urgentemente ou se confinará a mais um partido residual. Talvez as autárquicas ajudem a amenizar o efeito...
Quanto aos pequenos partidos e aos votos brancos e nulos perfazem 6,2%. Significativo o descontentamento popular...
Acredito que José Sócrates pretenderá levar avante o seu governo minoritário, fazendo acordos pontuais. Acredito ainda na possibilidade de conseguir cumprir os quatro anos de legislatura, embora em circunstâncias naturalmente adversas.
Quanto à oposição, designadamente no que concerne ao PPD/PSD, terá de se reorganizar e encontrar um líder afirmativo, proactivo e carismático que se imponha primeiro ao partido e depois ao país. Enquanto isso não acontecer, tudo como antes no quartelo de Abrantes. Talvez lá para Maio tenhamos novidades (antes não acredito, mas em política nada é definitivo )...
Vem aí as autárquicas: mais um capítulo político neste frenético 2009. Mas, convenhamos, as contingências são bem particulares...


F.P.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Europeias 2009







No passado dia 07 de Junho, as eleições europeias marcaram o passo do quotidiano actual.
O devir da sociedade portuguesa, de tão mordaz, parece remeter-nos para uma ironia queirosiana no seu esplendor mor.
O panorama político agitou-se. Os protagonistas revelaram-se. Os actores secundários foram subtilmente (ou nem por isso) desmascarados. Vejamos os factos e atentemos aos dados:

As eleições europeias foram, mirabile visu,reveladoras e, por que não considerá-lo, bem taxativas da conjuntura actual. Se, para muitos analistas, estas eleições se revelaram surpreendentes, para outros, como eu (e sem qualquer pitada prepotente), foram o culminar de um contexto agreste que se materializou numa resposta lapidar a uma indignação generalizada.
Vivemos em crise, dirão uns. Estamos em crise, afirmarão outros. Continuamos em crise, insistirão outros. Sentimos a crise, proferirão outros. Até aqui, nada de novo, nem de surpreendente, nem discutível porventura.
Todavia, analisemos caso a caso.

a)O Partido Socialista foi o grande perdedor. Consensual! Não só perdeu Vital Moreira com o seu ar demodé e pouco carismático, para além de confuso, incongruente e desconexo, desconstruindo inúmeras vezes a sua fidelização ao aparelho rosa.
Perdeu também, sobretudo e de modo clarividente, José Sócrates e a sua entourage. Ruíu o mito da invencibilidade socrática, porventura bem mais cedo do que o racionalmente suposto. Afinal, o primeiro-ministro parece relegado para uma realidade da qual ele próprio jamais pressuporia. Após este cartão bem alaranjado, terá três meses para se recompor, repensar estratégias, fazer umas quantas concessões populistas e rever matrizes comunicacionais, ao fim e ao cabo, o seu verdadeiro calcanhar de Aquiles. Quanto à arrogância desmedida e despudorada terá seguramente os dias contados! (26,6%)

b) O Partido Social Democrata foi o principal vencedor. Primeiro na chegada à meta, primus inter pares, reconquistou o protagonismo político nacional passando, a partir de agora, a marcar a agenda política (para o melhor ou para o pior)!
Paulo Rangel arrancou definitivamente para a ribalta. De forma meteórica, destaca-se como líder parlamentar, assume-se como cabeça de lista «possível» nas europeias e eis que se destaca como a grande revelação desta campanha. Mais, consegue a proeza (por antítese a Vital, embora curiosamente ambos professores) de conjugar o «factor revelação» com o «factor consagração». E logo um «dois em um»...
Uma palavra de destaque, ainda, para Manuela Ferreira Leite. Pela convicção, pela determinação, mas, fundamentalmente, pela coerência. Algo a que começamos a não estar habituados, embora não seja arrebatadora, carismática ou empolgante...Contudo, calou o partido. E na hora da vitória, ninguém reclama e todos resgatam os louros.
Vejamos se saberão potenciar o capital que lhes foi conferido. (31,7%)

c) O Bloco de Esquerda conquistou, em apenas dez anos, a proeza de se tornar (pelo menos momentaneamente) a terceira força política portuguesa, ultrapassando tangencialmente a CDU (coligação dos Comunistas com os Verdes). Vejamos se será sol de pouca dura, o verdadeiro teste virá daqui a três meses, mas proeza como esta merece sempre uma referência especial, mais não seja por constituir um dado novo na ciência política nacional, embora já expectável atendendo ao perfil identitário do BE. (10, 7%)

d) A Coligação Democrática Unitária, pese embora o seu discurso (aliás natural e esperado) laudatório aos resultados conquistados, sentiu claramente um sabor agridoce. Por um lado, saboroso por ter aumentado quantitativamente o número de eleitores. Acresce o facto de que não perdeu eleitores. Efectivamente, aumentou-os! Por outro, insatisfatótio e até frustrante por ter sido ultrapassada pelo BE como terceira força política nacional. Dirão alguns paladinos da astúcia política que as legislativas daqui a três meses negarão ou confirmarão os resultados, mas certo é, porém, que há que saber ler e (tentar) interpretar os resultados. Brevemente, assistiremos a novos episódios. (10, 7%)

e) O Centro Democrático Social/Partido Popular, conseguiu também uma pequena grande vitória, contudo assinalável. Contra todas as expectativas alheias, contrariadas eventualmente apenas pelos próprios correligionários (do CDS/PP subentenda-se), subiram percentualmente, elegeram dois deputados e cresceram eleitoralmente. Daí a comoção no rescaldo da noite eleitoral... (08,4%)

f) Uma palavra de incentivo para o Movimento Esperança Portugal, idealizado pelo talento e carisma verdadeiramente singulares de Rui Marques que, personalizados em Laurinda Alves, se afirmaram como a mais relevante das pequenas forças partidárias. Veremos o que o futuro lhes reserva.

No entanto, convém reflectirmos sobre três condições fundamentais que circunscrevem estas eleições:

1) Com uma abstenção na casa dos 63, 1% e uma percentagem de votos em branco e nulos na ordem dos 6,6%, dá que pensar. Algo vai mal na política portuguesa...

2) As sondagens revelaram-se instrumentos imprecisos, pouco claros e erróneos. Equívocos tanto nos valores como no prório sentido de voto. A rever!

3) Indubitavelmente, estas eleições não poderão ser consideradas como um espelho fiel de umas legislativas antecipadas, quer pela sua nomenclatura, quer pelos seus objectivos, como ainda pelos contextos e protagonistas. Mas, não restem dúvidas! Estas eleições foram um belo ensaio geral do que pode acontecer daqui a três meses.

Haja bom-senso, repensem-se estratégias, afinem-se diapasões porque se a maioria absoluta de cor rosada parece agora uma miragem bem distante, os dados estão definitivamente lançados e tudo pode acontecer.
Podem crer, caros amigos, em parcos três meses PS e PSD poderão cantar vitória. Dependendo dos valores, dos princípios, dos programas mas, acima de tudo, da capacidade de estabelecer empatias com o eleitorado, dependerá o resultado final das próximas legislativas.
E o povo, soberano, premiará quem se conseguir pôr no seu lugar, vislumbrando - e sentindo na pele - uma realidade dura, factual e objectiva de quem vive do seu trabalho.
Também a nós, cidadãos atentos,conscientes e participativos, nos competirá desmistificar Paul Valéry quando este afirmou que «a política é a arte de impedir que as pessoas participem nos assuntos que lhes dizem respeito».
Atentemos ao futuro.

Quo vadis?



Fernando Peixoto ©

sexta-feira, 15 de maio de 2009

VASCO GRANJA - E(terna)mente...






1925 - 2009


Vasco Granja.

Um Homem pluridimensional.

Artista de uma sensibilidade única, comunicador nato (e raro), cativou públicos distintos, conquistou gerações, fidelizou fãs.
Embora com qualidades ímpares, nem sempre terá sido consensual em matérias como a política ou a «guerra» obstinada dos de audiência, nos últimos anos designadamente, com o advento das estações privadas.
Todavia, foi precursor do cinema de animação em Portugal. Abriu horizontes, desbravou caminhos, quebrou tabus e impôs uma nova forma de comunicar.
Fundamentalmente terno, genuíno, autêntico.
Presto-lhe, aqui, a minha homenagem sentida.
Como tantos outros, com ele cresci, aprendi e descobri que o meio mais eficaz de comunicar plenamente reside, na essência, em sermos autênticos.
Vasco Granja, eterno amigo, um grande abraço e o meu Muito Obrigado!

Até sempre...

sábado, 25 de abril de 2009

DÚBIA, É A VIDA




(Fotografia extraída de www.olhares.com)


O tempo passou

Sinto

Que já não sou o mesmo.

Olho-me ao espelho...

Longamente.

Agora,

Vejo um velho,

O cabelo esbranquiçado

A pele rugosa, irregular

Decadente.

Já não me sinto novo

Capaz de desbravar o mundo

De enfrentar conflitos,

De dar o corpo ao manifesto.

Perdi a ânsia d' aventura

O gosto e o devaneio,

O cio e o prazer.

Não mais busco o futuro

Não penso no amanhã...

Porque, se pensar

Não sei o que será...

Do resto... de mim!

Dizem que rugas são magia

Que a velhice é sagese

Que parar é morrer.

Os filhos adultos,

Os netos crescidos,

Os caminhos cruzados.

E eu,

Um pobre velho incauto

Não sei o que fazer.

Antes,

Sonhava, ria

Chorava, gemia

Vibrava, enfim...

Sentia!

Hoje,

Não consigo mais rir

Nem chorar, nem gemer

Nem vibrar...

Hoje,

Não consigo mais amar!

Não consigo mais sentir

A mais ínfima sensação...

Não consigo mais sofrer!

Amanhã...

Que será de mim?

Será não, será sim?

Só não quero mais sofrer

Deste medo de morrer!

Fernando Peixoto © (Novembro de 1994)

quinta-feira, 19 de março de 2009

MEMORIAL

A meu Pai,



Agora que o tempo acelera

Perpassando célere como o vento

Se abre uma nova quimera

De querer, sentir e...invento.



Prostrado no espaço vazio

Deambulo entre nuvens e arcas

Universo de emoções parcas

Tabuleiro sem margens nem rio.


Agora que a memória desperta

Reavivando a alma que surge

A data impõe, o dia urge

Na saudade presente que aperta.


A noite chega depressa

Nos versos soltos da história

Que a lembrança atenta, essa

Transversaliza a memória.




Mais do que mil palavras, uma imagem. Mais do uma imagem vã, a lembrança na memória de uma história do amanhã...


Fernando Peixoto © Porto 2009

terça-feira, 27 de janeiro de 2009






Caros Amigos, com este poema abro uma excepção a este blogue cujas publicações são da minha exclusiva autoria. Aproveito para partilhar convosco um poema que me foi dedicado e oferecido pelo meu estimado Pai (daí estar em itálico), pela passagem do meu trigésimo aniversário em Outubro de 2003.
Após esta singela homenagem, continuarei a publicar exclusivamente textos da minha exclusiva autoria.
Um abraço deste vosso amigo,
Fernando Peixoto



AMOR AZUL



Ontem foi o tempo
em que tudo mudou
grito catárctico e anseio
libertação d’um receio.

Viagem sem volta
autismo de cor
que alimenta e solta
busca inócua d’amor.

E, se agora, não te afago
não te esqueço todavia
nesse universo aziago
que da noite se faz dia.

Hoje, me recuso aceitar
a impotência que respiro
sonho e penso, transpiro
em contigo, partilhar.

Qual desejo perpassado
no espelho reflectido
neste impulso incontido
és o meu filho desejado.

Se o longe se faz perto
nem sempre assim acontece
o devir logo é incerto
e a mágoa não fenece.

Nesse teu azul olhar
me revejo e contradigo
não sei se só, se contigo
de mim t’irás lembrar.

Se recuso a derrota
e projecto a vitória
a memória não suporta
que me esqueça da história.

Amanhã olharás o rosto
e verás um outro olhar
tomar-lhe-ás o gosto
e saberás perdoar.

E assim te desejo
o que a distância não apaga
um abraço, um beijo
nesta vida, nesta saga.

( Parabéns e um abraço de teu Pai, Fernando Peixoto © )
Outubro 2003

Fernando Peixoto (Pai)

sábado, 10 de janeiro de 2009

FALÁCIAS



O tempo vai passando
Na sequência natural
Cambaleando, anormal
Por si só, divagando


De um devir transmutado
Em périplos constantes
Passos funestos, errantes
Num passar malfadado

Os factos sucedem os ventos
Vagueando na brisa da manhã
Qual aurora travestida de sã
Em vãos de escada, momentos

Quando olhamos, extasiados
Vemos apenas uma aura de luz
Como leigos diante da cruz
Que amamos sem sermos amados

Agora que o tempo se finda
E as águas inertes se agitam
Mil sóis e luas nos orbitam
Que mais nos restará, ainda?



Fernando Peixoto ©

Porto, Novembro de 1999