quinta-feira, 10 de junho de 2010

HOMEM












Espécie única, indefinível


Sensorial e cognitivo


Racional, intuitivo


Porventura imperceptível.


Todos os seus gestos


Polvilham mil desejos


Em que mesmo nos ensejos


Disseminam os seus restos.


Entre alegrias e tristezas


Por caminhos sinuosos,


Ressurgem anseios vigorosos


Mesmo fermentando tibiezas.


Por mais epítetos lançados


Jamais será compreendido


Porque ele vive e sonha, sentido


Num simples lançar de dados.


É esta a realidade crua


Nas passadas inquietas da vida,


Dessa vida irremível e tida


Como espuma despida e nua.





Fernando Peixoto © 2001



Fotografia de Jorge Feteira - www.olhares.com

domingo, 23 de maio de 2010

INTROSPECÇÃO





Está tudo tão claro

É tão raro...

Estar assim.

Parece que o tempo pára

Está tudo assim

Estranhamente frio

Luzidio e triste

Como arma em riste...

Parece um rio

Que aflui em mim.

É um espaço reflectido

Que deriva p'ró mar

Espectro vivido

Que sabe escutar.

Perpetuado em mim,

Silêncio que menstrua

Comunica e desagua...

Simplesmente assim.



Porto / 1996


Fernando Peixoto ©

sexta-feira, 26 de março de 2010

PSD: Quo Vadis?






Precisamente hoje, 26 de Março de 2010, o Partido Social Democrata vai a eleições internas.
Muito mais do que eleger um líder – e restante entourage – poder-se-á estar na iminência de eleger o futuro Primeiro-Ministro de Portugal.
Obviamente que na vida nada é definitivo, quanto mais na política cujas verdades de hoje são, não raras vezes, as mentiras do amanhã. Contudo, a cartada que o PSD vai jogar, responderá por si num prazo bastante curto. A discussão do Orçamento Geral do Estado, a decisão acerca do Programa de Estabilidade e Crescimento e, numa fase posterior, a eleição presidencial, constituirão os grandes desafios para a nova direcção nacional que vai hoje a sufrágio.
Pedro Passos Coelho, um histórico do partido e ex-presidente da JSD, foi o primeiro a lançar a candidatura, se bem que, efectivamente, esta mais não é que o prolongamento sublimado da anterior. Ademais, coloca-se manifestamente na pole position desta eleição, em virtude de ter uma estrutura desde há muito preparada para o efeito.
Paulo Rangel, recente militante no partido e com uma ascensão meteórica, antigo secretário de Estado da Justiça, ex-militante do CDS-PP, foi o único social-democrata a conseguir uma vitória laranja face ao PS na era Sócrates o que lhe terá granjeado um capital político relevante.
José Pedro Aguiar-Branco, um clássico do partido, antigo ministro da Justiça, actual líder da bancada parlamentar, um bem sucedido advogado, parecia bem encaminhado não fosse a surpreendente entrada de Rangel (ou talvez não) na corrida, acrescido do facto de fazer parte do mesmo espectro partidário.
Castanheira Barros, militante pouco conhecido, parece querer ganhar alguma projecção mediática.
Independentemente de quaisquer elucubrações que se possam fazer, parece-me que os dados estão lançados.
Pessoalmente, antevejo uma vitória do ex-líder da JSD. E passo a explicar: foi o primeiro a entrar na corrida, tem o projecto mais desenvolvido e uma máquina a carburar há bastante tempo. Para além do mais, tem uma imagem telegénica e uma voz colocada. Acresce ainda o facto de estar ‘liberto’ da última direcção nacional do partido e potencia claramente aquele que foi o handicap de ter sido excluído das listas para deputados.
Por seu turno, Rangel poderá pagar caro as sucessivas hesitações quanto ao arranque da candidatura. Demasiado tarde, estou em crer. Porém, o tom utilizado na campanha, algo crispado, parece fazer recordar o pragmatismo seráfico de Sócrates. E a imagem não ajuda.
Por fim, Aguiar_Branco, terá conquistado uma posição destacada no partido embora não pareça que seja desta a afirmação definitiva a nível nacional.
Quanto às conclusões a equacionar, penso que a percentagem que Rangel vier a obter poderá determinar a unidade laranja no futuro próximo, a começar já amanhã.
Passos Coelho poderá ganhar a eleição mas terá de seduzir o partido. Com o desgaste do governo rosa, o amanhã far-se-á primeiro a nível interno e só depois num âmbito nacional. Uma vitória expressiva seria manifestamente um tónico suplementar, até para evitar ‘guerrilhas’ internas. No entanto, veremos.
Mas, parece-me óbvio, esta eleição constituirá um novo impulso na política nacional e até um desafio novo para o PS e para Sócrates. Porque, só nos testamos verdadeiramente e consequentemente revelamos, quando verdadeiramente desafiados e postos à prova.
Até amanhã…


© Fernando Peixoto