sábado, 25 de abril de 2009
DÚBIA, É A VIDA
(Fotografia extraída de www.olhares.com)
O tempo passou
Sinto
Que já não sou o mesmo.
Olho-me ao espelho...
Longamente.
Agora,
Vejo um velho,
O cabelo esbranquiçado
A pele rugosa, irregular
Decadente.
Já não me sinto novo
Capaz de desbravar o mundo
De enfrentar conflitos,
De dar o corpo ao manifesto.
Perdi a ânsia d' aventura
O gosto e o devaneio,
O cio e o prazer.
Não mais busco o futuro
Não penso no amanhã...
Porque, se pensar
Não sei o que será...
Do resto... de mim!
Dizem que rugas são magia
Que a velhice é sagese
Que parar é morrer.
Os filhos adultos,
Os netos crescidos,
Os caminhos cruzados.
E eu,
Um pobre velho incauto
Não sei o que fazer.
Antes,
Sonhava, ria
Chorava, gemia
Vibrava, enfim...
Sentia!
Hoje,
Não consigo mais rir
Nem chorar, nem gemer
Nem vibrar...
Hoje,
Não consigo mais amar!
Não consigo mais sentir
A mais ínfima sensação...
Não consigo mais sofrer!
Amanhã...
Que será de mim?
Será não, será sim?
Só não quero mais sofrer
Deste medo de morrer!
Fernando Peixoto © (Novembro de 1994)
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9 comentários:
Professor,
Então, como vai andando?
O poema é lindíssimo embora tão triste!
Dá que pensar, faz-nos reflectir e questionar...
Em 1994 já pensava nesse tema?
É mesmo um pensador!
Tudo de bom.
Beijinhos,
Catarina Dias (CD)
Professor,
Lê-lo é uma honra, pena é não poder assistir a uma das suas brilhantes (e, únicas)aulas!
Grande poema, aliás, mais um.
Se este for o único meio de chegar até ao senhor, que seja...
Beijinho,
Carla Novais
Professor F. Peixoto,
Que poema tão profundo...
A capacidade de expressar em palavras os sentimentos mais densos, de uma forma tão sublime, apenas se torna possível graças à sua genialidade.
É sempre uma honra revisitá-lo.
Um abraço,
Carlos Tavares
Professor,
O tempo passa mas as suas aulas aulas ficam...
Ainda agora imagino a sua voz a recitar este poema e nós, estáticos, a pensarmos como baratas tontas!
Gostei, como sempre, de visitá-lo. Há sempre algo bque se aprende, como se buscássemos algo...
Beijinhos,
Rita Alves (P/B...)
"NÃO CONSIGO MAIS SOFRER!"
Soberbo exercício de compreensão do tempo, da vida e do ser humano; Projetas a si e ao outro, (que não está ao lado), mas existe. Estás a falar de si, bem como do que desconheces, mas sabes que Viver, pressupõe momentos que precisamos gritar ao mundo:
"Não CONSIGO mais sofrer!"
E aceitamos 'DESABRIR' sem dor...
Fernando querido, reverencio o Poeta que vive em ti, e aplaudo a Poesia que ele encerra. Só te peço que não negues aos nossos olhos e sentidos, a partilha deste dom.
Meu abraço terno e amigo.
Sempre,
Sylvia Cohin
Fernando amigo, que bom receber seus escritos. A lembrança do Pai junto com a herança deixada, clareia, embeleza e a atualidade.
Um abraço forte, Zé Carlos
Professor,
Grandes palavras e maiores sentimentos. Sensibilidade única!
Obrigado por nos proporcionar este espaço único, bem à sua imagem...
Beijocas,
Teresa Lima
Muito sentido este blog de poemas.
Este em especial, deixa-nos a pensar na vida e na morte.
Laura B. Martins
Blog bastante interessante.
Não conhecia, falaram-me e fiquei bem impressionada.
Voltarei em breve.
Lídia S.
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