sexta-feira, 26 de março de 2010

PSD: Quo Vadis?






Precisamente hoje, 26 de Março de 2010, o Partido Social Democrata vai a eleições internas.
Muito mais do que eleger um líder – e restante entourage – poder-se-á estar na iminência de eleger o futuro Primeiro-Ministro de Portugal.
Obviamente que na vida nada é definitivo, quanto mais na política cujas verdades de hoje são, não raras vezes, as mentiras do amanhã. Contudo, a cartada que o PSD vai jogar, responderá por si num prazo bastante curto. A discussão do Orçamento Geral do Estado, a decisão acerca do Programa de Estabilidade e Crescimento e, numa fase posterior, a eleição presidencial, constituirão os grandes desafios para a nova direcção nacional que vai hoje a sufrágio.
Pedro Passos Coelho, um histórico do partido e ex-presidente da JSD, foi o primeiro a lançar a candidatura, se bem que, efectivamente, esta mais não é que o prolongamento sublimado da anterior. Ademais, coloca-se manifestamente na pole position desta eleição, em virtude de ter uma estrutura desde há muito preparada para o efeito.
Paulo Rangel, recente militante no partido e com uma ascensão meteórica, antigo secretário de Estado da Justiça, ex-militante do CDS-PP, foi o único social-democrata a conseguir uma vitória laranja face ao PS na era Sócrates o que lhe terá granjeado um capital político relevante.
José Pedro Aguiar-Branco, um clássico do partido, antigo ministro da Justiça, actual líder da bancada parlamentar, um bem sucedido advogado, parecia bem encaminhado não fosse a surpreendente entrada de Rangel (ou talvez não) na corrida, acrescido do facto de fazer parte do mesmo espectro partidário.
Castanheira Barros, militante pouco conhecido, parece querer ganhar alguma projecção mediática.
Independentemente de quaisquer elucubrações que se possam fazer, parece-me que os dados estão lançados.
Pessoalmente, antevejo uma vitória do ex-líder da JSD. E passo a explicar: foi o primeiro a entrar na corrida, tem o projecto mais desenvolvido e uma máquina a carburar há bastante tempo. Para além do mais, tem uma imagem telegénica e uma voz colocada. Acresce ainda o facto de estar ‘liberto’ da última direcção nacional do partido e potencia claramente aquele que foi o handicap de ter sido excluído das listas para deputados.
Por seu turno, Rangel poderá pagar caro as sucessivas hesitações quanto ao arranque da candidatura. Demasiado tarde, estou em crer. Porém, o tom utilizado na campanha, algo crispado, parece fazer recordar o pragmatismo seráfico de Sócrates. E a imagem não ajuda.
Por fim, Aguiar_Branco, terá conquistado uma posição destacada no partido embora não pareça que seja desta a afirmação definitiva a nível nacional.
Quanto às conclusões a equacionar, penso que a percentagem que Rangel vier a obter poderá determinar a unidade laranja no futuro próximo, a começar já amanhã.
Passos Coelho poderá ganhar a eleição mas terá de seduzir o partido. Com o desgaste do governo rosa, o amanhã far-se-á primeiro a nível interno e só depois num âmbito nacional. Uma vitória expressiva seria manifestamente um tónico suplementar, até para evitar ‘guerrilhas’ internas. No entanto, veremos.
Mas, parece-me óbvio, esta eleição constituirá um novo impulso na política nacional e até um desafio novo para o PS e para Sócrates. Porque, só nos testamos verdadeiramente e consequentemente revelamos, quando verdadeiramente desafiados e postos à prova.
Até amanhã…


© Fernando Peixoto

4 comentários:

Professor disse...

Fernando,

Ei-lo de regresso aos grandes comentários políticos. Exemplar análise, com rigor e isenção intocáveis.

Um grande abraço.

E.M.

Anónimo disse...

Meu caro Fernando,

É sempre com um prazer incomensurável ler análise/comentário político de primeira água. Mais um de se lhe tirar o chapéu...

Um grande abraço,

Tomás Lencastre

Anónimo disse...

Professor,

Faz tanto tempo... Parece que foi ontem! Andava a pesquisar na net, quando me deparo cpm este seu blog. Fantástico.
O comentário político é interessante mas os seus poemas são o máximo, diria mesmo uma obra de arte.
Vou voltar frequentemente.
Um grande abraço.

Gonçalo Carneiro

Anónimo disse...

Olá Professor,

É sempre um enorme prazer lê-lo. Até se imagina a sua voz grave e eloquente a discursar, como na rádio...
Escreva com mais frequência, pois bem falta faz.
Um grande beijinho.

Carla Gomes